terça-feira, 27 de maio de 2014
FOLIÕES DO DIVINO - MENSAGEIROS DA PAZ
"Ao entrarem na casa, façam a saudação. Se a casa for digna, desça sobre ela a paz de vocês; se ela não for digna, que a paz volte para vocês. Se alguém não os receber bem, e não escutar as palavras de vocês, ao sair dessa casa, sacudam a poeira dos pés."(MT. 10 - 12,14) - ou seja, não levem nenhum ressentimento.
Eu entendo que esta é a base da visita dos foliões. Aqueles que levam a mensagem da paz, nas suas andanças entoando cantigas de bençãos, graças e promessas aos devotos do Divino que o contemplam com respeito e muita fé.
"Naquele tempo, Jesus disse: "Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes e as revelastes aos pequeninos. Sim Pai porque assim foi do teu agrado."(Mt 11-25,26)-(Lc 10,21) De acordo com a explicação da Bíblia - edição pastoral, "os sábios e inteligentes não são capazes de perceber em Jesus a presença do Reino. Só os desfavorecidos e pobres conseguem penetrar o sentido da atividade de Jesus e continuá-la."
Me entristeço quando ouço comentários pejorativos sobre os foliões, a maneira como louvam sem dar aos ouvintes menos familiarizados com esta tradição o devido entendimento do que está sendo proclamado e a forma lamentosa com é entoado. A grande característica é a humildade, onde a peregrinação se faz como muito entusiasmo e ao mesmo tempo voltada ao amadorismo com todos os resquícios dos tempos medievais de onde remonta as suas origens. Está na simplicidade a sua força pois é o Sagrado sendo exaltado, venerado e amado uma vez que simboliza a presença da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade entre nós.
Em um mundo capitalizado, nos voltamos sempre em valorizar a riqueza, o poder e nos esquecemos que Jesus sempre exaltou o fraco, o pobre, o inocente, o correto. Aquele que não se envergonha de testemunhá-lo, de se alegrar com a Sua presença.
Ele mesmo veio ao mundo e foi ninado em uma manjedoura numa estrebaria.
Ele mesmo acolheu como apóstolos homens toscos e rudes. Pescadores que não exitaram em largar suas redes e segui-Lo. Ele mesmo que, como homem antes de começar a sua missão como O Filho de Deus, desempenhou a profissão de carpinteiro igual a José se pai.
José e Maria eram naturais de Nazaré. Lá viveu Jesus até os trinta anos de idade. Porém aquele vínculo com a cidade não lhe foi de nenhum proveito. Nazaré o rejeitou (Mt 13:54-58; Mc 6:1-6; Lc 4:16-30; Jo 4:43-44). Ser originário de Nazaré significava ser pessoa mal afamada pois a cidade era totalmente desinteressante, inexpressiva e sem importância. Uma vila pequena com população entre 50 a 400 na época do nascimento de Jesus. Confirmou-se assim o que dissera Natanael, ao ouvir de Felipe que Jesus era de Nazaré: "De Nazaré pode sair coisa boa?" (Jo1,46). Muitas e muitas vezes resistimos em confiar na origem humilde estigmatizando como incompetente, sem graça. Quantos cientistas, estudiosos, políticos de projeção, mas que não mudaram o curso da história como Jesus o fêz.
Outros casos onde apenas a grandeza do espírito se sobrepuseram:
Na França, em Lourdes, Bernadette de Soubirous, criança desnutrida, analfabeta e enfraquecida pela asma cronica em 11 de fevereiro de 1858, disse ter visto a primeira aparição da Dama de branco na gruta de Massabielle. Outras aparições aconteceram mas Bernadette era sempre maltratada quando interrogada sobre elas. Respondia apenas: "Sinto uma grande alegria quando vou lá." No convento para onde foi mandada, a madre superiora passou a ter restrições para com Bernadette pois sempre comentava:"Se a Virgem Santa queria aparecer a alguém neste mundo, por que escolher uma camponesa vulgar e analfabeta ao invés de uma freira virtuosa e instruída?"
La Salette era uma típica destas aldeias rústicas. A 19 de setembro de 1846 duas crianças, ambas pastoras viram a Virgem Maria. Desacreditadas essas crianças foram afastadas.
Em Fátima - Portugal, três crianças pastoras viram a Virgem Maria numa moita e depois uma vez por mes, nos seis meses subsequentes. Houve ceticismo entre o clero e as crianças foram até julgadas.
O indío Juan Diego também foi maltratado ao levar ao conhecimento do bispo a visão que tivera de Nossa Senhora no monte Tepeyac no México.
Voltando aos foliões, o seu canto de visita proclama: O Divino Espírito Santo
Em vossa casa chegou
veio vos pedir uma oferta
que o festeiro mandou.
Após os cumprimentos, o beijo na Bandeira, a colocação de fitas e fotos das pessoas as quais pedem ou agradecem uma graça especial, a despedida é feita de forma respeitosa e solene:
Vos destes a vossa oferta
E o Divino a recebeu
Com a vossa fé em Jesus
Tereis a benção de Deus.
Que o Divino Espírito Santo nos abençoe.
terça-feira, 20 de maio de 2014
FESTA DO DIVINO
Falamos, pensamos, interagimos hoje sobre a festa do Divino. Justamente sobre os dez dias de transformação que ocorre em nossa cidade neste período.
Ainda bem que herdamos essa tradição. Ainda bem que nossos antepassados acolheram e deram continuidade a esse maravilhoso jeito de Deus se manifestar entre nós.
Ainda bem que o povo de antigamente desde os ribeirnhos, como os que viviam nos confins da baía, aqueles que viviam no "pé" da serra como também os da "vila" se irmanaram e não permitiram que o tempo acabasse com esta devoção que é a presença do Divino Espírito Santo entre nós.
Esses munícipes tinham como característica o isolamento, a precariedade material mas em compensação: social e espiritual os elos eram imensos.
Socialmente tudo se compartilhava. Tudo desde o peixe pescado, como a caça conseguida após a espreita astuta, a roça plantada. Esta ajuda mútua denominada mutirão se manifestava também na construção das casas. Como herança do povo indígena, absorvida pelo caboclo, o mutirão sempre prezou pelo auxilio prestado.
Espiritualmente, o respeito e o temor a Deus se manifestava a todo instante. Desde o nascer do sol que marcava o inicio da lida até o escurecer onde o recolhimento se fazia necessário para o descanso. As formas de oração geralmente eram espontaneas sempre em agradecimento, exaltação ou pedidos principalmente de saúde, provisão e condições boas do tempo para que as roças fonececem o alimento que precisavam. Uma forma de oração que minha mãe sempre conta das suas lembranças remotas que era feita por uma família matuta e sem conhecimento algum de religião mas que ao abrir a porta do humilde casebre todos os dias eles, ao olharem para os montes da serra que avistavam diziam: _"Um, dois, tres... bendito seja quem te fez."
A proximidade da Festa do Divino marcava o final de mais um ano vivido. A visita dos foliões com as Bandeiras: cor branca - da Trindade Santa, cor vermelha - do Divino Espirito Santo, o ressoar do tambor era o convite para se desligar de toda e qualquer atividade e voltar-se para a presença do Sagrado visitando as casas e entoando canções de bençãos e promessa para mais um ano de vida modesta mas feliz.
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