segunda-feira, 27 de abril de 2015

CONVERSANDO COM MEUS FALECIDOS

                                
                                        
      Quanta beleza, quanto encanto em relembrar de todos aqueles que fizeram parte de minha  vida, das quais muita herança recebi que estão  incrustadas no meu DNA.
      Vô, lembro do Senhor sorrindo sentado na cabeceira da mesa. Homem grande, olhos claros se impondo em uma cozinha também grande e antiga, onde o fogão de lenha fumegante exalava o aroma das delícias que a Vó Dinorá preparava. Mais tarde, o Senhor já doente em seu quarto sendo assistido pela vó; quantas vezes pela porta passei e não lhe dirigi a palavra, pois, não sabia o que falar como criança muito retraída que era.
     Vó Maria, com a senhora a coisa era diferente. Até a cama, quando criança a gente dividia. Não era bem um diálogo mas a gente “trocava figurinhas as vezes.” Saí de baixo porque o que não a agradava era falado e, muitas vezes até imposto.        
     Pai, oh pai. Que grande pai foi o Senhor. Pai, companheiro, amigo. Aquele com o qual a gente sabia que contava. Sem cultura erudita, mas um grande sábio. Não se furtava de nos ofertar ensino. Tínhamos enciclopédias, escrivaninha, máquina de escrever, detalhes que muitos poucos tinham em uma época sem muita opção de cursos.  
     Minhas tias, algumas convivi mais estreitamente e algumas lembranças ficaram. Tia Rosália que, morando em Paranaguá, nas férias enfileirava a filharada e vinha para a praia. Eita, era uma curtição só. Tia Zelita: que prole maravilhosa gerou. A gente sentia o orgulho no seu olhar quando  se referia aos seus filhos e das dificuldades enfrentadas para criá-los. Tia Laura: nossa maior felicidade sempre foi ir para a Lapa claro que destino era sempre a sua casa.
     Tio João – meu padrinho de casamento. Parecido com o Pai! Morei em sua casa e só tenho a agradecer . Tio Benjamin. Êta menino inteligente sô. Imagine alguém que frequentou uma escola no São Joãozinho – isso nos idos dos 40 – fez exame seletivo para ingressar na Escola Técnica (Hoje SEFET) e lá se formar e conseguir uma vaga para ser um dos professores pioneiros quando da fundação de Brasília. Que salto heim tio!! Vá ser bom assim na Conchichina. Tio Ercílio – uma cara muito legal. Tio Antonio – quantas conversas jogamos fora passeando nos campos de sua chácara. Tio Germano, nossa convivência foi muito linda no final da sua vida. Ali o Senhor me mostrou o quanto era forte e generoso diante de um sofrimento que não lhe dava trégua, pois não conseguia comer, tomar água se higienizar sozinho mas mesmo assim mostrava uma abnegação, aceitação, uma humildade se limites.
     Luca meu lindo. Se jogou de cabeça na vida. Que pena. Quando acordou do pesadelo sua vida já tinha passado e o seu corpo dilacerado. Os dois últimos anos vividos foi com sabedoria e queria neles incorporar a quase meia década que passou hipnotizado pelo vício das drogas.
      Dado – meu genro querido. Obrigado pelos quinze anos que você ofertou à minha filha. Quinze anos de muito amor, convivência, reciprocidade. Paizão. Amigão. Maridão. Precisamos nos acostumar com a sua falta.                           
                                                             Que Deus os tenha na sua glória.

      

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