segunda-feira, 14 de julho de 2014
Professora da vida
Na arte de ensinar estamos sempre competindo com a escola da vida. Minha mãe é a minha grande professora na escola da vida. Hoje com 89 anos, ela esbanja sabedoria mesmo quando as vezes sai "fora da casinha". Ela tem uma serenidade, uma força espíritual, uma tranquilidade que me emociona. Mesmo sozinha, ela nunca está só. Mesmo sem fugir de tantas situações dolorosas em sua vida ela hoje não sofre de dores emocionais pois criou uma forma de superá-las que consiste em apenas relembrá-las mas não mais fazer daquilo uma ferramenta de sofrimento. Não digo que não derramou lágrimas e creio que foram muitas. Nunca deixou de verbalizar aquilo que sentia. Nunca teve uma vida individualista pois a dor do outro, o frio do outro, a carencia do outro sempre a preocupou e, da forma que lhe cabia, tentava o conforto desse outro. Hoje seus sonhos são silenciosos. Não tem mais energia e nem vontade de sair, conversar. Seus filhos, netos e bisnetos - principalmente aquela fofura do Thomas Milton - são o seu mundo. Profissionalmente foi o braço direito de meu pai no comércio durante muito tempo. Foi sempre uma mestra para tentar resolver os problemas da vida que porventura surgiam na família. Sua cultura acadêmica foi muito limitada pois estudou até o quarto ano primário em escola rural naquele sistema de "decoreba" onde,até hoje ela discorre sobre as vilas e cidades do Paraná na época (nos idos de 1930) que consiste um uma listagem enorme. Lista grande também das capitais estaduais que ela discorre com maestria.Também tem uma forma toda especial de relacionar os meses do ano através de uma "decoreba" que é: "30 dias têm setembro,abril, junho e novembro. Fevereiro 28 tem. Se for bissexto,mais um lhe deem. E no mais que sete são: 31 todos terão".
Sou professora aposentada e amo a profissão que abracei. Conciliar as nossas trajetórias como seres humanos no dia a dia com esta profissão é diante mão penosa e causticante. As dificuldades são muitas, tanto no exercício da cidadania como passar para os nossos alunos esse exercício de cidadania. Muitas vezes são priorizados apenas os direitos. Os deveres não são válidos dentro de uma perspectiva paranóica e individualista. A cooperação,o conhecimento, o respeito, os projetos tanto sociais como profissionais são postos de lado como se não tivessem importância alguma. A tolerância e o perdão se perdem dentro de um universo de total egoismo. A inteligencia torna-se uma ditadura que se encarcera diante da tecnologia e do mundo que emudece cada vez mais. A solidão prolifera bem como as doenças psicosociais.
Que o maior mestre da escola da vida - Jesus - promova nas nossas novas gerações e em nós mesmos uma nova pessoa diante da capacidade de pensar, de ouvir e de se colocar sempre como aprendiz diante da vida.
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