O título desta crônica é para nós o
tema da Festa do Divino 2012.
A FÉ sempre foi o fator crucial dos
devotos do Divino que em comunhão na crença, fortalecem a comunidade e praticam
a solidariedade desde os primórdios de nossa história. Também, foi esta FÉ que sempre povoou a mente
de todas as pessoas onde, de uma maneira ou de outra fizeram os seus pedidos a
fim serem atendidos nas suas necessidades e carências. Outrora, a festa era um acontecimento diminuto socialmente e financeiramente mas, fervilhava de espiritualidade e FÉ, uma vez que os Devotos do Divino a esperavam ansiosamente.
Inicialmente a expectativa estava na visita dos foliões do Divino. O trabalho pesado e imprescindível era colocado de lado, não importando o que quer que estivesse sendo feito: plantio, manutenção ou colheita na roça que podia ser de mandioca, milho, arroz ou outro produto produzido em nossos sítios; ou trabalho nas “casas de farinha” ou até mesmo uma derrubada de mata para a criação de uma nova roça; todo o trabalho era interrompido quando se ouvia o toque do tambor anunciando a chegada das Bandeiras e convidando para a festa.
Eram momentos de muita devoção e louvor e até de certa antecipação da festa. Os sitiantes providenciavam comidas e bebidas para os foliões que eram recebidos com muita alegria. Eles eram convidados para pernoitarem nas residências em uma solenidade onde pedidos novos eram feitos com a colocação de papéis escritos costurados ou fixados com “pregadeiras” - espécie de alfinete de segurança muito utilizado antigamente no vestuário - e as do ano anterior eram pagas com fitas e fotos que eram colocadas nas Bandeiras. O agradecimento às benesses recebidas tanto em forma de saúde: uma boa gestação, uma boa hora no parto que geralmente era realizado por parteiras, a cura de um mal que podia ser uma dor ou uma machucadura, as doenças infantis, que era comum se agravarem em uma época de difícil vacinação; febres, enfim, todas as “feridas do corpo”. Bem como as “feridas da alma” tais como as tristezas, aflições, angustias, “pensamento mal”, as contrariedades e as agonias tanto física como mental e espiritual.
Também as atividades e as necessidades do dia-a-dia eram motivos de pedidos ao Divino: falta de chuva, seca que eram perigos constantes para que as plantações vingassem e para que a colheita fosse boa; medo que as “queimadas”, muito utilizadas para a limpeza da terra para o plantio – “coivara” como chamavam - se expandissem com o vento e queimassem as moradias pois muitas eram cobertas de palha.
Antigamente havia mais concentração de população nos sítios e mais dificuldade de acesso, tornando os lugares ermos. A comunicação se dava apenas pela baía em canoas a remo ou a vela que navegavam para a “vila” para a venda e compra do que se fazia necessário: remédios; artefatos de trabalho tais como ferramentas, arame farpado, velas para iluminação, querosene, sabão, tecidos para roupas e outros quesitos mais.
Tudo era de muita penúria e carência fazendo com que a devoção e a FÉ ao Divino, acalentasse a todos e os alegrasse, dando paz as suas almas.
Socialmente havia muita solidariedade, pode-se dizer. Praticava-se a troca e o mutirão que é a disponibilidade das pessoas no trabalho de grande porte que exige muita mão de obra, como no caso de uma grande roçada, grande derrubada de mata, construção de uma “casa de farinha” ou mesmo para a produção em “grande escala” de farinha de mandioca; alimento básico da população caiçara na época. Esse trabalho era gratuito, mas fortalecia um vínculo de amizade, união e parceria.
Quando chegava a época da festa então... ai sim era devoção e diversão. Devoção manifestada nas novenas que na realidade eram terços com ladainhas e cânticos variados.
A missa acontecia no domingo da festa quando o Padre que vinha de Paranaguá a realizava, às dez horas com muitos batizados e casamentos. E a procissão era o ponto alto onde a romaria acontecia em um ato de louvor e adoração ao Divino Espírito Santo. Tudo com muito respeito e muita fé.
A diversão acontecia nos festejos onde havia principalmente os leilões com diversos produtos doados pelos fiéis. Desde cachos de banana, sacos de farinha, galinhas, gansos, patos, porcos e bolos. E a noite: os bailes. Dançava-se a noite toda nos salões próximos a Igreja. Havia também o “Salão da Cepa” – uma antiga fábrica de tamancos onde, na época da festa se improvisava um salão de baile e aí o “arrasta pé”, o “limpa banco” acontecia ao som das sanfonas e outros instrumentos da época.
Por isso tudo, o nosso saudoso Leôncio Jaques cantava nas ruas da cidade: “Oi vai haver uma festa muito grande...” nos demonstrando hoje que realmente a festa tem que ser grande. Grande em espiritualidade, grande na união da nossa comunidade paroquial, grande na paz em nosso município, grande na prática da solidariedade, grande no zelo pelas nossas crianças e jovens e principalmente; grande na missão de sermos verdadeiramente cristãos.
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