Olhando um prato decorativo com a foto da Igreja Centenária estampada, fico a imaginar a sua construção e o panorama de nossa cidade nos primórdios de sua fundação.
Nosso município, analisado historicamente é resultado de reformas realizadas no século XVIII pelo governo de Marquês de Pombal, Ministro do rei de Portugal, D. José I. Para Pombal, soberania seria “o constante e real domínio de um espaço geográfico bem demarcado”.
Essas reformas em termos de domínio foram ligadas em parte a necessidade de ocupar os limites com a América espanhola; em termos de soberania: defesa do território e preocupação com as minas de ouro existentes nas proximidades da Serra do Mar.
Essa necessidade de expansão do território levou a uma maior presença de engenheiros militares na colônia - Brasil - e fundação de várias vilas planejadas. No caso do nosso município o seu planejamento inicial está estampado em fotos antigas quando vemos o traçado da Praça central com as ruas já urbanisticamente delimitadas, a imponência da Igreja e as casas ladeando todo o traçado no estilo chão, onde são “coladas” uma na outra sempre na mesma dimensão e no nível da rua. Os limites de nossa cidade já ficaram previamente fixados no dia 2 de maio de 1771 estampando assim esta característica Pombalina de espaço geográfico bem demarcado.
A implantação de igrejas era um aspecto determinante no urbanismo colonial pela função político-religiosa que ela desempenhava. Na realidade, a Igreja na sua opulência, representava o domínio constante e real apregoado pela Colônia na figura do Marques de Pombal, Ministro do Rei de Portugal dentro das vilas coloniais. Olha só as características das construções religiosas na época e me diga o que tem a ver conosco:
"Frequentemente a construção de edifícios religiosos tinha a forma retangular. Era acompanhada pela criação de um adro ou uma praça junto ao edifício assim como uma malha de ruas de acesso, organizando o espaço urbano”.
Agora observemos o estilo interno de construção das igrejas: “A forma retangular e a nave única está relacionada a função de pregação religiosa. A planta longitudinal é a ideal para reunir uma grande quantidade de pessoas - para a época, no espaço interno da Igreja Centenária era grande, fazer o que! – e mantê-la com a atenção voltada para a Capela Mor onde se desenvolve o culto religioso.” Sempre presente a Torre Sineira – está lá a nossa – dando um sentido de verticalidade às construções manifestando o desejo de mostrar o caminho da transcendência, ou seja, a obediência para se alcançar o céu.
As condições de vida nos povoamentos nos dois primeiros séculos e a carência de meios materiais e recursos humanos não nos permitiam rebuscadas estruturas arquitetônicas, por isso, nossa igreja teve a sua construção considerada completa, mas faltava-lhe o assoalho - o que facilitava os sepultamentos, cuja ocorrência, determinava a cobrança de taxa de acordo com o local onde era efetivado o enterro: quanto mais perto do altar mais alta era a taxa cobrada. Isso se dava porque não havia cemitério na povoação, fato que aconteceu durante oitenta e seis anos. Faltava-lhe também o forro, e as janelas. Mesmo assim, ela foi considerada uma construção perfeitamente acabada, “sem os erros que se notam nas igrejas antigas”.
Provavelmente os construtores foram os próprios moradores da vila pois em histórico nenhum encontramos o relato de pedreiros contratados ou de componentes de milícia como se constata na construção da igreja de São Francisco do Sul. Também a presença de escravos era diminuta uma vez de tratar-se de povoação planejada e estipulada a vinda de 200 casais para o início do povoamento.
Um detalhe importante na construção da igreja era a grossura de suas paredes que teriam que ter “mais de meio palmo de largura”, ou seja, que não se economizasse material pondo em risco assim a segurança das paredes. Também o que chama a atenção é a preocupação com o tempo de construção cuja recomendação é “que a abrevie quanto possível” - que ela seja construída rapidamente. Sim pois o povo ansiava por um Passo Espiritual. Quanto mais rápido, mais fácil para que o pároco começasse a exercer as suas funções que era: rezar as missas, realização de batizados, realizar a ação de graças junto ao povo onde se cantava a ladainha TEDEUN LAUDAMUS; administrar os sacramentos necessários aos moradores, “absolver dos reservados, sínodos, fazer exorcismos, benzer, dispensar adjetivo-potendum aos impedidos, casados”,evitar “as indiferenças que há na sua freguesia e outras quaisquer culpas que irritem a justiça divina” e, além disso, desempenhar suas funções administrativas que se constituía em expedir certidões de nascimento, certidões de óbito etc.
Antes da Igreja “ficar pronta,” o pároco nomeado Reverendo Bento Gonçalves Cordeiro teve a autorização para “funcionar em casa particular decente.” Também provavelmente o Pároco exercia o cargo de administração da construção da Igreja; fato que ocorreu em São Francisco na construção da Igreja da Padroeira Nossa Senhora da Graça de 1659 a 1719 tendo como vigário e administrador da construção da Igreja o Padre Manuel de Nazaré.
Bem, já que estamos falando de padroeiros, vamos aos nossos: “É bem possível que a Padroeira, Nossa Senhora do Bom Sucesso, tivesse presidido as solenidades de criação da Vila; todavia podemos assegurar que Ela já espargia a benção celestial a seu povo que sempre a venerou com muito ardor, desde o ano de 1777". Nesta fase não temos a entronização da Santa o que vai ocorrer em 20 de janeiro de 1857quando a família de Joaquim Évora de São Francisco do Sul a ofereceu à nossa igreja.
Quanto ao Padroeiro, foi feito uma homenagem ao rei da França D.Luis X e São Luis de França passa a ser o nosso Santo Protetor, cuja imagem foi dada pelo Capitão Manoel Miranda Coutinho “que a sua custa mandou vir da cidade da Bahia”. Foi entronizada na Igreja no dia primeiro de janeiro de 1819. No entanto o nome de São Luis de Guaratuba da Marinha foi dado à "Vila de Guaratuba" numa homenagem a D.Luis Antonio de Souza Botelho Mourão a si próprio.
Quanto ao Padroeiro, foi feito uma homenagem ao rei da França D.Luis X e São Luis de França passa a ser o nosso Santo Protetor, cuja imagem foi dada pelo Capitão Manoel Miranda Coutinho “que a sua custa mandou vir da cidade da Bahia”. Foi entronizada na Igreja no dia primeiro de janeiro de 1819. No entanto o nome de São Luis de Guaratuba da Marinha foi dado à "Vila de Guaratuba" numa homenagem a D.Luis Antonio de Souza Botelho Mourão a si próprio.
Assim como a Igreja exercia um papel preponderante de poder e submissão, a criação dos Santos Padroeiros também tinha a sua função especificada: o fervor da fé e a crença na resolução de todos os males tanto do corpo como do espírito. Por isso encontramos até hoje a prática do pagamento de promessas como forma de agradecimento de uma graça recebida. Isso se deve as dificuldades enfrentadas em uma época de grande penúria e dificuldades.
Quanto a construção da igreja, o material empregado na construção das paredes comenta-se que a sua composição é de pedra misturada com uma argamassa feita de cal de conchas que havia em abundância no litoral, mais especificamente nos sambaquis, e óleo de peixe para fazer a liga. Aí, nos temos uma grande controvérsia pois na literatura diz que: “o óleo de peixe garantir a resistência de argamassa de cal de conchas na construção colonial é uma sólida crença”.Bom. Quem é que sabe? Na história de Santa Catarina o que mais se vê é o uso de óleo de peixe nas construções coloniais.
Os demais materiais empregados para o acabamento era a madeira nas escadarias internas e externa pois inicialmente havia uma escadaria para se atingir o sino e tocá-lo. Devido a sua exposição no tempo, esta escadaria logo começava a se deteriorar o que fez com que ela fosse recolhida. Com o passar dos anos aboliu-se a escadaria e passou-se a utilizar a corda para puxá-lo como é feito até os dias atuais. A madeira foi utilizada também no vigamento de sustentação do teto que mais tarde foi substituído por ferro. As telhas de barro denominadas telhas canais também foram substituídas mais tarde por telhas francesas.
Na realidade a grande característica arquitetônica colonial desta época foi marcada pela simplicidade. Afinal, tudo era simples dada as condições de isolamento e sem recursos, a população era totalmente dependente daquilo que lhes era fornecido pelo governo tais como: ferramenta e utensílios para as construções da moradias e até o alimento: “farinha para comerem enquanto não produzem lavouras”. A farinha de mandioca era a base da alimentação da população costeira uma vez que existia abundância de peixes, moluscos tais como: ostras, sururus, berbigões etc. e crustáceos.
Bons tempos aqueles da 1771 onde foi elevado a Vila o povoado e a Igreja recebeu a benção iniciando assim as suas atividades paroquiais. Mas meio tétrico eu acho. Imagine você entrar em uma igreja para assistir uma missa sabendo que está pisando em covas de defunto? E o ambiente... aquela situação não de lusco-fusco mas sim de claridade assombreada onde se projetam imagens totalmente desproporcionais, pois qualquer luz projetada dentro dela: uma chama de vela por exemplo projetava nas paredes tudo aquilo que se passava na sua imaginação pois, a igreja sem o piso e sem o assoalho se tornava surpreendentemente alta e as projeções; fantasmagóricas até. UIUIUIUIUIIIIIIIIIIIII. Melhor agora Né?