quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

AINDA SOBRE CINZAS - LEMBRANÇAS DE CRIANÇA

      Na década de 50,  em uma vila onde morávamos foi que  aconteceram as peripécias que vou descrever.
      As condições de vida eram complicadas mas, comparando com muitas situações dos dias atuais, morávamos em um palácio. Nossa casa era de madeira, toda sarrafeada, pintada de amarelo, construída sobre sapatas em um terreno compacto e limpo. Tinha uma árvore com copa frondosa na frente, um terreno com quintal, horta, bomba d'agua - apesar que a água era saloba mas tudo bem, havia a torneira comunitária na esquina. A divisão de peças era também de madeira com portas, tudo direitinho afinal meu pai era marceneiro, carpinteiro e construir casa era sua especialidade.
      Mas voltando ao assunto: fogão a gás nem pensar. Nem se conhecia isso. Era fogão a lenha. Fogão a lenha mesmo construido com tijolos etecétera e tal, tal como os de hoje em dia. Só que agora, os ditos fogões servem, na maioria para decoração.
      No pátio de casa, havia uma tora de madeira meio cavocada onde se colocava a "acha" de lenha e com o machado a "acha" era dividida em vários pequenos pedaços para ser colocado no fogo. Imagine que o machado permanecia no quintal e mesmo nós, crianças de 7 ou 8 anos, eu e meus irmãos, cortávamos a lenha quando era preciso.
      Mas voltando outra vez à pauta que é "cinzas". Muitas vezes na falta da lenha que era comprada em metro cúbico, ou seja, dois paus enfiados na terra com 1 metro de altura, uma distancia de 1 metro entre eles. Ali se colocava tronco com 1 metro de comprimento, preenchendo todo o espaço. Pronto, aí está  a quantidade de lenha que era vendida para ser consumida nos fogões. Adivinhe como é que eu sei disso! Bem, em uma certa altura de nossa vida, meu pai dentre outras atividades que desempenhava para aumentar a renda da família, além de trabalhar como carpinteiro nos armazéns de café; vendia lenha em metro. Sentiu firmeza no velho? Ele era supimpa. Que Deus o tenha.
     Quando nos mudamos, nos anos sessenta, como diz minha mãe; meu pai continuou vendendo lenha no Armazém do meu avô só que desta vez era o feixe pronto com determinado número de "achas" cortadas que vinham já prontos dos sítios.
       Mas, voltando outra vez ao enusitado: Na falta de lenha, ou para aumentar o estoque, nós íamos com nossa avó materna "lenhar", ou seja, catar lenha, no caso, gravetos, galhos, troncos de árvores que eram derrubados para que os terrenos fossem limpos para construção. Afinal a vila estava se espandindo. Os donos cortavam as árvores, creio até que eram nativas; colocavam fogo e o que restava eram tocos encarvoados e - cheguei lá - cobertos de cinzas. Nós fazíamos feiches destas preciosidades e transportávamos na cabeça para casa. Imagine a cena: Parecíamos personagens, da música THRILLER de Michael Jackson: pretos de carvão e cheios de cinzas.  Mas não pense, querido leitor que aquilo nos entristecia. Muito pelo contrário, representava para nós uma alegria por mais uma aventura vivenciada. Ficávamos purificados bem no sentido teológico da benção e distribuição de cinzas da qual participei nesta quarta feira de cinzas.No meu caso, as cinzas da lembrança de criança era um regozijo, um motivo de grande alegria pois representava viver uma grande aventura com a avó, ainda por cima.
      Quem não tem belas lembranças vividas com a avó ou com o avô, que marcaram suas vidas que jogue a primeira pedra!     

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