Há um rio serpenteando o solo, escavando o leito, irrompendo em lugares ermos, lutando contra o lixo no seu curso urbano, se esgueirando através do mato, se estreitando embaixo de pontes construídas para que seja transposto e se apertando entre gabiões de pedras em suas margens. Aí o milagre acontece.
Ele se abre para desaguar no mar. A areia da praia o recebe como que o louvando por todos esses obstáculos vencidos com bravura.
Essa areia lhe rende graças e o seu caudal incessante até atingir as águas do mar se torna um culto em agradecimento pela oportunidade de misturar as suas águas avermelhadas e turvas ao azul as vezes esmeralda outras vezes oliva ou simplesmente borbulhenta do grande oceano.
Esse desaguar observado no dia a dia é como se fosse em grande ritual onde; dependendo da maré, do vento, do tempo ou da estação faz com que o rio tome formas diversas todos os dias no enorme espaço arenoso da praia.
Já o vi se comportar de várias maneiras onde vem a formar lagamares, curvas fechadas, curvas abertas, forma de “esse”, leque aberto onde o mar alto penetra suas águas misturando-as desordenadamente.
Conforme o movimento do mar ele desatina em linha reta sem se preocupar com os bancos de areia que muitas vezes atingem alturas consideráveis que passam a despencar lentamente mudando outra vez a forma do deságüe.
Já testemunhei pessoas letradas tentando mudar o seu curso as custas de pás, pedras e outros objetos para a escavação e formar diques, gastando na empreitada o dia todo. Tudo em vão. O que sobrou com certeza para o dia seguinte foi uma grande dor nas costas e cansaço porque o rio permaneceu impassível mudando apenas quando a maré, o vento ou simplesmente a força do Criador determinou.
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